Comentário sobre o "argumento das audiências"
O Peso do Horário (Por JOÃO MANUEL ROCHA, Editor)
in Público, 8 de Junho de 2001
O "top" das tabelas de audiências de televisão recebeu na
terça-feira um intruso: o Direito de Antena da CGTP foi o
nono programa mais visto do dia, à frente, por exemplo, do
Contra-Informação ou de O Bar da TV. Surpresa? Nem por isso.
Não foram os filiados na confederação sindical que se precipitaram
em massa para os televisores. O Direito de Antena beneficiou da
curta duração e, principalmente, da colocação entre os dois
programas que mais atenção despertaram na RTP1 nesse dia - o
Telejornal e o jogo de futebol entre as selecções de sub-21 de
Portugal e Chipre. Menos óbvio, o facto de ter passado às 20h44,
numa faixa horária de grande consumo de televisão, também
teve, por certo, a sua importância.
O exemplo, algo caricato, talvez desajustado, do êxito de
audiência da mensagem da CGTP evidencia um factor que nem sempre
se tem em conta quando falamos de audiências: a determinadas
horas, e independentemente da sua qualidade intrínseca, quase
todos os programas estão condenados ao sucesso. Desde que passem
no canal certo no momento certo, desde que beneficiem do efeito
de arrastamento de programas de grande audiência, desde que sejam
transmitidos às horas a que se vê mais televisão.
É por isso que nas discussões as audiências valem o que valem. E
que soa a explicação de mau pagador o argumento, frequentemente
utilizado pelos programadores, de que nos horários nobres só
determinado tipo de temas pode vingar. No limite, a questão
poderia colocar-se da seguinte forma: se o grande público eleva
o tempo de antena da CGTP aos píncaros das audiências, porque
não faria o mesmo com outros programas que não os "reality shows"?
P.S. - O diálogo ontem encetado pelos patrões das televisões
parece condenado a ser uma verdadeira conversa de surdos. Todos
se dispuseram a conversar, é certo e é positivo. Mas todos
foram dizendo, por meias palavras ou à boca cheia, que não
estão dispostos a abandonar a sua trincheira. Conversar para
inglês ver não adianta.
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